Diferenças ou divergências?

12-04-2013 19:59

 

 

No último dia 3 de abril do ano corrente, a cantora baiana Daniela Mercury divulgou seu relacionamento com a jornalista Malu Verçosa e... Pronto! Todas as emissoras passaram a dar uma notoriedade gigantesca ao fato! Jornais, revistas de grande circulação e acreditem, até programas culinários passaram a discutir o assunto!  Manhãs inteiras dedicadas à discussão, informação, histórias, causos e muito, muito sensacionalismo! Uma grande emissora de TV disponibilizou seu programa dominical num horário nobre para a cantora conceder uma entrevista sobre sua revelação! Artistas de todas as partes e áreas demonstraram seu apoio à mesma! Mas, gostaria de saber em que este fato contribuiu para a vida de milhares de pessoas que estavam em seus lares assistindo a estes programas? Houve alguma relação deste fato com o aumento da inflação, queda do dólar, ou outro fato relevante qualquer? Provavelmente alguns dirão que sou insensível e que o fato de uma artista de grande expressão e mídia revelar-se homossexual ajudará no combate ao preconceito, a intolerância e no respeito às diferenças! Mas, será que aquele homossexual que não tem dinheiro, que mora com os pais, que estuda em escola pública, que sofre todos os dias a rejeição da família, dos amigos, dos colegas de trabalho sentiram alguma melhora após este acontecimento? Ou será que aquelas pessoas que não aceitam ter um filho, um amigo, um colega de trabalho homossexual mudaram suas opiniões?

 

Às vezes, parece-me que tentamos buscar o respeito às diferenças desrespeitando as divergências!  Todos têm o direito de gostar de algo ou não! Aceitar ou não alguma coisa!  Creio que muitas pessoas têm problema com o diferente e não com a diferença! Somos moldados a aprender, crer e repassar aos nossos filhos um padrão de como as coisas funcionam e ,por isto, temos dificuldades em aceitar algo que nos foi apresentado como errado, distorcido, principalmente, em relação a valores. Nenhum pai ou mãe sonha em ter um filho homossexual! Desde que sabemos da notícia de que teremos um filho, idealizamos, planejamos a sua chegada e sua trajetória segundo nossas crenças e ensinamentos!  Qual pai está preparado para ver seu filho ser discriminado, enxotado na escola, no trabalho, na sua própria casa? Nenhum! O fato de não se entender algo, já nos causa rejeição! Mas, isto não significa que somos preconceituosos, intolerantes, racistas... A homofobia é tão segregadora quanto o preconceito racial, no entanto, acostumamos a viver a discriminação racial de forma velada, silenciosa na qual muitas vezes o agredido é quem se sente envergonhado e muitas vezes culpado! Mas, já viu algum programa dedicado a discutir o problema da discriminação racial numa grande emissora de TV? Apesar da grande maioria da população brasileira ser de negros, já ouviu algum artista negro dar uma entrevista dizendo que foi discriminado em determinado local e isto virar um “boom” de notícias, entrevistas? Melhor, já viu algum artista colocar na sua página pessoal na internet a seguinte frase: “Sou negro!”. Certamente, não daria ibope! Não venderia revistas e não aumentaria acesso de site algum! É necessário se analisar com cuidado a linha tênue entre diferença e divergência para que não as atropelemos e passemos de defensores dos direitos de a alijadores dos direitos de outros.

 

Gérson Prado